24 de fevereiro de 2013

Eu quis fazer mais do que a maioria faz


Encontrei uma rosa no sótão de casa no meio das coisas antigas dos meus pais. Ela tinha treze anos, e ainda sim, se mantinha conservada entre todas as limitações existentes para uma flor durar. Era uma rosa grande com três espinhos no caule e de uma cor salmão meio ressecado pelo tempo. Ela era linda.

Quando eu era criança, eu descobri que uma flor guardada entre duas folhas sulfite demora mais para ressecar e perder a cor do que uma flor que é solta dentro de um livro. Percebi que uma flor protegida tinha muito mais importância do que uma colocada em uma página qualquer ou dentro da água para durar mais três dias. Acho que foi por isso que eu cheguei em casa e montei um envelopinho para guardar a sua florzinha.

Nada contra pessoas que colocam rosas em águas ou livros, isso até faz mais sentido e é o que a maioria faz. Só que eu não faço sentido algum e, por mais bobo que seja, faço sempre o contrário do que a maioria faz. Eu pensei em conservar a estrutura e a cor de uma flor que nasceu pra durar cinco ou sete dias e, no meio de tantas outras flores, foi pega por alguém e dada para outro alguém que pensou em uma forma de cuidar melhor dela, mesmo sabendo de todas as modificações que o tempo vai causar. Eu tenho isso de fazer de tudo para manter as coisas bonitas mesmo sabendo de todas as mudanças que a vida pode causar. Eu sinto carinho, eu quero ser incrível, eu quero cuidar. Mesmo sem saber se eu posso, mesmo sem saber se eu devo, mesmo com todos os espinhos que podem vir a me machucar.

Mas no final das contas, eu não cuidei tão bem da sua flor por causa da rosa salmão ou por causa do meu jeito sem sentido de sentir motivos para querer ser incrível com alguém. A grande verdade é que eu te guardei uma florzinha porque você se tornou importante e eu nunca soube muito bem como dizer isso. Eu entendo claramente sobre a importância das palavras, principalmente quando estamos em frente a alguém, mas a questão é que nenhum dicionário sabichão me ajudaria a dizer que eu te guardei uma florzinha porque, com você, eu não queria fazer o que a maioria faz. E sinto dentro de mim que você é o tipo de pessoa especial o bastante para merecer mais do que a maioria faz.

Eu quis te dizer que a protegi entre duas folhas sulfites, porque quis tomar todo o cuidado do mundo com a primeira parte que tive de você: uma flor com um bilhete. Eu quis te dizer que eu teria a mesma preocupação e cuidado com todas as suas outras partes pensando sempre na melhor maneira de cuidar delas, porque eu sou uma pessoa que guarda flores em envelopes e senti que valia a pena proteger uma por você.

Eu quis te dizer tanta coisa e não consegui, porque a verdade é que não sei lidar tão bem assim com as palavras. Então, eu só entreguei a sua florzinha no envelope e  não disse nada.

Letícia Cardoso

Um comentário:

Vinicius Andrade disse...

Caralho.
Esse texto é tão bonito que eu só consegui começar com um caralho. Tava de bobeira navegando na internet e não achava que iria encontrar algo tão bonito pra caralho.
Você escreve bem, e eu não pude deixar de notar que além de tudo você é muito linda. Então, parabéns pelas belezas que você tem.

O ruim é que agora você fez eu ficar pensando em todas as flores que já dei para outras garotas.

Tô te seguindo por aqui e pelo twitter. Quero estar perto dos seus textos.

Bj e desculpe pelos palavrões.